terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

Dízimo é um assunto muito sério, mais sério do que muita gente pensa. Estamos falando de dinheiro e de poder que, para serem conquistados, exigem que sejam construídos argumentos falsos, hermeneuticamente desonestos, mas que, em um ambiente de culto cuidadosamente bem preparado, com hornamentos litúrgicos como fundos musicais tocantes e um bom orador mexem na consciência das pessoas de tal forma há até quem já tenha matado por causa de dízimo. Quem não se lembra da fiel que matou os pais adotivos com requinte de crueldade por causa de dízimo? Segundo o site presbiteriano Calvinista, ela pertencia a uma dessas mega denominações neopentecostais. http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com/2010/04/fiel-da-igreja-universal-mata-pai-e-mae.html

 
Existe base para a cobrança de dízimo no NT? Se não existe quem criou essa doutrina e quando? Todos os líderes e todos os cristãos no mundo acreditam nesse ensino? Como identificar os erros desse  ensino na Bíblia para não ser enganado? Se dízimo é um mandamento da Lei do AT e Paulo, como veremos, deixa claro que quem pratica apenas algumas obras mas não pratica a lei toda como os judeus fazem, está em maldição, por que alguns insistem ensinando e estimulando o fiel a dizimar ainda que com um entendimento errado dos textos? É o que vamos ver abaixo.
 
Não existe base no NT para se ensinar que as pessoas são obrigadas a dizimar.  Convencidas de que ao exercerem qualquer cargo na sua denominação, estarão assim fazendo a "obra de Deus" não são poucas que desejam a todo custo fazerem a obra! Obviamente muitos líderes sabem muito bem como "induzir" as pessoas a pagarem o dízimo através de insinuações ou mensagens implícitas dizendo "não dá dízimo, mas aqui você será um 'zero a esquerda". Se não forem dizimistas, na maioria das denominações as pessoas jamais exercerão alguma atividade. Não é dizimista? Nunca será "obreiro (a)", nem realizará atividades na comunidade. Também não terá a nossa atenção". É claro que muitos não dizem isso abertamente mas, aos poucos, quem não é dizimista começa a se sentir incomodado com a indiretas ou as insinuações sutis que é uma forma de dizerem "se toca e paga o dízimo!" Infelizmente é assim que a banda toca. Não é à toa que muitos se afastam das comunidades porque sabem que isso não é evangelho. E poucos os procuram porque não são rentáveis, não levam dízimos em forma de dinheiro todo mês. Portanto, como esse é um assunto melindroso fica aqui a critério de quem desejar uma análise dos textos do NT sobre a doutrina do dízimo.

Textos sobre o dízimo citados nos evangelho: Mt 23:23; Lc 18:20, Lc 20:25. Nas cartas, apenas em Hebreus e, em  Hb 07:08 o RR Soares chega ao cúmulo de dizer que era uma prática comum entre os primeiros cristãos. Mentira, claro! Não há uma ordem divina em nenhum desses textos, nos evangelhos, para que o fiel dizime, com exceção de Mt 23:23, onde tem a frase "devíeis porém fazer  estas coisas sem omitir aquelas". Como veremos, Jesus estava falando com fariseus não com a igreja, porém, o mais intrigante nesse texto é que talvez Jesus nunca tenha dito isso!

Um livreto recheado de erros!
Um certo dia eu estava passando em frete a uma denominação e alguém me deu esse livreto. Guardei e quando cheguei em casa decidi ler para ver qual é a base do ensino sobre o dízimo. Fiquei surpreso com a forma errada e apelativa que o escritor usou para convencer o fiel a dizimar. O escritor não é nenhuma pessoa ingênua destituído de conhecimento bíblico; é um homem experiente no que faz, líder de uma das maiores denominações do seguimento neo-pentecostal com cultos televisivos. Seu nome é RR Soares. Por isso, não tenho como não achar que ele está errando de propósito, como muitos outros por aí fazem, ao querer convencer o fiel a dizimar em sua denominação, demonstrando total falta de compromisso com a integridade hermenêutica. Usar a Bíblia dessa forma é falta de compromisso com a verdade e com a honestidade. Há um vídeo desse escritor e líder circulando no YouTube onde ele responde a um homem que quer saber se o fato de uma pessoa não ser fiel no dízimo, afeta a salvação dela. A resposta dele foi tristemente errada ao dizer que "sim, influencia completamente na salvação", e cita Malaquias onde, segundo ele, está o relato mais completo.  
 

Alguns dos erros do livreto

ERRADO! Veremos mais abaixo que nos primeiros 400 anos da história da igreja os primeiros cristãos não dizimavam e tal doutrina não existia! Veremos também o que o escritor aos hebreus está dizendo realmente nesse texto.


ERRADO! O Dízimo bíblico nunca foi dinheiro em forma de salários, presentes, doações ou juros! Outra mentira é que na instituição do dízimo a igreja nem existia, logo como ele devia ser entregue na igreja? Foram homens quem inventaram isso, nada disso consta na Bíblia!

ERRADO! Veremos que nem Jesus nem os apóstolos nunca instituíram o dízimo como doutrina para a igreja!

A partir desse ponto, peço que  leia com bastante a atenção  e com  calma. 👇

Antes de entrarmos nos detalhes dos textos, vejamos com calma o que diz o comentário da importante Bíblia de estudo Scofield. Por favor, preste bem atenção nas  informações principalmente nos textos destacados.

A missão de Jesus foi inicialmente aos judeus (Mt.10:5-6; 15:23-25; Jo.1:11). Ele foi nascido sob a lei (Gl.4:4), e foi constituído ministro da circuncisão; em prol da verdade de Deus, para confirma as promessas feitas aos nossos pais (Rm15:8), e cumprir a lei para que a graça pudesse superabundar [...] O sermão da montanha está intimamente relacionado com a lei no seu nível espiritual mais elevado, porque exige como condição de bênção (Mt.5:2-9) o perfeito caráter, que somente a graça, através do divino poder criar (Gl.5:22,23). As doutrinas da graça são desenvolvidas nas EPÍSTOLAS, não nos Evangelhos[...] Os evangelhos não desenvolverão a doutrina da Igreja. A palavra "Igreja" aparece apenas em Mateus. Depois de sua rejeição como rei e Salvador pelos Judeus, nosso Senhor anunciou um mistério que estava ate aquele momento "oculto em Deus" (Ef.3:3-10); ele disse: "Edificarei a minha Igreja" (Mt16:18). "Era portanto, no futuro.”

Nos evangelhos
Ninguém é obrigado a dar ou pagar dízimo! Nem Jesus, nem os apóstolos e muito menos os primeiros cristãos ensinaram a prática do dízimo! nem 10%, nem 5%, nem 1%, muito menos 100%. Nada! O que temos, principalmente nas cartas de Paulo aos Coríntios são pedidos de ofertas e doações. Sim, mas não era para construir templos, nem ajudar sedes, não era para pagar salário a ninguém. Era simplesmente para AJUDAR aos POBRES DE JERUSALÉM. Vamos verificar o assunto do dízimo no NT, analisando detalhadamente os seguintes textos: Mt 23.23; Lc 18.12; Lc 20.19-26.

Uma dica interessante é que o leitor da Bíblia sempre preste atenção nas pessoas com quem Jesus está falando. Era com os seus discípulos (a futura igreja)? Era com os Fariseus? Era com os Saduceus? Era com os Herodianos? Era com os Zelotes? Era com todos eles? As respostas a estas perguntas são importantes para compreensão do texto. Sobre o quê ele está falando? Ele dá alguma ordem aos discípulos para que seja obedecida ou apenas está respondendo a alguma pergunta de alguém? Observe que nem sempre há uma ordem, às vezes há apenas um esclarecimento onde Jesus visa responder a alguém, mas não visando transformar a sua resposta em uma doutrina para a igreja. Por não observar detalhes como estes, muitos leitores erram ao tentar entender o texto.

Vamos então à análise dos textos.

Examinando o texto de Mt 23:23

O texto diz o seguinte:
"Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do caminho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça a misericórdia e a fé; devíeis, porém fazem estas causas, sem omitir aquelas" (ARA- Tradução de Almeida Revista e Atualizada).

A luz do contexto percebe-se claramente que  Jesus está dando várias advertências aos Escribas e Fariseus, e entre estas advertências está a forma errada como eles dizimavam, porque faziam isso em uma atitude de coração fortemente reprovada. Dizimar não era mais importante do que tratar o próximo de forma justa, exercendo também a misericórdia para com os outros e o cultivo a fé.

Os Fariseus queriam dar o dízimo até das mínimas coisas, mas Jesus estava exigindo deles que observassem todos os preceitos da lei, de forma correta, como ordenava a lei (Lc.18:5), e como convinha aos judeus. Justiça, misericórdia e fé, estas são as obrigações éticas mais importantes da lei para o povo de Deus, que naquele contexto eram os judeus.

A maioria dos líderes e ensinadores quer convencer o leitor da Bíblia e os cristãos de que Jesus sancionou a doutrina do dízimo com base em Mt 23:23. Será mesmo? Claro que não! Entenda, de uma vez por todas que Jesus não apenas ensinava verdades a respeito de si, do Reino e da fé para a "futura igreja". Sim, "futura igreja" porque a igreja de Cristo ainda não estava atuando, ainda não existia e este é o primeiro detalhe importante aqui. 
 
Como prova basta você se lembrar que alguns capítulos antes Jesus havia prometido que ainda edificaria a sua igreja. Por favor, observe: "
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Mateus 16:18
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Mateus 16:18
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Mateus 16:18
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra EDIFICAREI a minha igreja..." Veja que o verbo "edificar" está no futuro. Se a igreja cristã já existisse ele diria com clareza assim "sobre esta pedra EDIFIQUEI minha igreja. 

Caso você ainda não tenha percebido, embora os acontecimentos nos tempos de Jesus estejam sendo narrados nos evangelhos e os evangelhos estejam agrupados no NT, contudo, aqueles acontecimentos ocorreram na verdade dentro do contexto do VT e não do NT. Significa que, na verdade, o NT só teve início na cruz! O Novo testamento não inicia no livro de Mateus! Caso você não saiba o primeiro livro entre os 27 do NT a ser escrito nem foi Mateus foi a 1ª carta aos Tessaloniocensses, escrita por Paulo. Aliás, mesmo entre os evangelhos, Mateus não foi o primeiro deles, eles estão apenas agrupados nessa ordem, que não é uma ordem cronológica. 
 
Além da observação do Dr. Scofield que lemos lá no início, observe o que diz o escritor da carta aos Hebreus, no capítulo 09:15-18: 

Portanto, é Cristo quem consegue fazer uma nova aliança, para que os que foram chamados por Deus possam receber as bênçãos eternas que o próprio Deus prometeu. Isso pode ser feito PORQUE HOUVE UMA MORTE que livrou as pessoas dos pecados que praticaram enquanto a primeira aliança estava em vigor. Onde há um testamento, é necessário provar que a pessoa que o fez já morreu. Pois o testamento não vale nada enquanto estiver vivo quem o fez; só depois da morte dessa pessoa é que o testamento tem valor.  É por isso que a primeira aliança entrou em vigor somente com o uso do sangue de animais. (Texto lido na NTLH)
 
Entendeu? Está claríssimo que enquanto Jesus não derramasse o seu sangue na cruz a Nova Aliança, isto é, O Novo Testamento ainda não estava em vigor, ainda não tinha iniciado. Portanto, o assunto discutido em Mt 23:23  está dentro do AT, embora esteja sendo narrado no NT
 
Jesus, embora tivesse escolhido os seus discípulos, não conversava apenas com eles, ele também discutia muitos assuntos com os mestres da lei, os Fariseus, com os Saduceus, entre outros. E, sobre o que ele conversava? Sobre assuntos ligados a fé NA VISÃO DO ANTIGO TESTAMENTO. Tudo era baseado na Toráh, nos Salmos e nos Profetas!  
 
Assim sendo, note que Jesus está conversando com os Fariseus e os mestres da lei, não com os discípulos, ou seja, Jesus está chamando a atenção dos Fariseus para o fato de que eles não estavam observando os preceitos da lei de forma correta, sendo eles os mestres da lei. Portanto, a conversa aqui é entre judeus, não entre cristãos, pois os cristãos não observam a lei do Antigo Testamento, uma vez que a base da relação entre o cristão e Deus é a sua fé em Cristo, o/ qual revogou a lei na questão da salvação (Gl 5:18).

Existe uma ordem nesse texto! Sem dúvidas há aqui uma ordem, "devíeis, porém fazem estas causas, sem omitir aquelas", mas não se esqueça que ele está, falando com os mestres da lei, e com os fariseus, pois, eles é que deveriam observar a lei corretamente. Isso significa que tal ordem não serve para nós cristãos! Não somos judeus! Não vivemos segundo a Lei do AT, como viviam os fariseus dos tempos de Cristo e como o próprio Cristo que, como sabemos, viveu segundo a Lei do AT, e cumpriu toda ela, até quê, por meio de sua morte ele estabeleceu uma nova forma de nos relacionarmos com Deus, pela graça que nos foi concedia quando cremos em Cristo. 
 
Aliás, deixa eu esclarecer que, segundo as palavras do apóstolo Paulo ao escrever aos Gálatas 03:10-12:
 
"Os que confiam na sua obediência à lei estão debaixo da maldição de Deus. Pois as Escrituras Sagradas dizem: “Quem não obedece sempre a tudo o que está escrito no Livro da Lei está debaixo da maldição de Deus.” É claro que ninguém é aceito por Deus por meio da lei, pois as Escrituras dizem: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus.” Mas a lei não tem nada a ver com a fé. Pelo contrário, como dizem as Escrituras: “Viverá aquele que fizer o que a lei manda.” (Texto lido na NTLH). 
 
O Dízimo pertence a Lei do AT, veja Lv 27:30-34; Nm 18:21-32 e Dt 14:22-29. Portanto, ao dizimar, você está se colocando sob maldição pois está praticando uma das obras da lei, no caso o dízimo, sendo que não obedece a toda a lei. O sábado, por exemplo, você observa?

Pode ser que você tenha ouvido dizer que o dízimo é anterior a Lei e que por isso, pode ser praticado pois Abração deu dízimo a Melquizedeque e Jacó dizimou. É uma nova forma de apelar para a consciencia do fiel como uma saída para convencer o fiel a continuar dando o dízimo. Nesse caso, também convido você à analisar com cuidado aquelas passagens, clicando aqui: http://agenuinateologia.blogspot.com/2017/02/a-doutrina-do-dizmo-foi-estabelecida.html
 
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.

Gálatas 3:10

Porém, se apesar de tudo o que foi dito você quer mesmo insistir na ideia de que deve obedecer ao imperativo da frase "devíeis fazer estas coisas", mesmo sabendo que ela foi dita aos Fariseus, então, como os fariseus, você também precisa obedecer ao restante que diz "sem omitir aquelas". Você precisa ser, antes de tudo, um um mestre na lei do AT e, ao mesmo tempo, possuir as credenciais de um Fariseu. Você é chegado em uma bisteca de porco? Um torresmo? Uma feijoada tradicional? Gosta de uma rabada de porco? Aprecia uma costela de porco? Gosta de  linguiça, bacon...? Gosta de um camarão? lamento te dizer, mas você está sendo hipócrita! Esqueça, precisa agir, segundo eles, pois a lei do AT, não permite comer essas coisas! Onde estão os seus filactérios? você precisa usar um! Jejua duas vezes por semana, toda semana? Faz orações nas casas das viúvas? Observa o sábado?Procure saber exatamente o que os fariseus faziam, naquela época, se você que usar  a frase "devíeis fazer estas coisas sem omitir aquelas, como base para o dízimo".   
 
Além disso, outro detalhe muito importante deve ser levado em consideração neste final do texto onde se encontra a suposta ordem de Cristo que é usada como base para se afirmar que Jesus sancionou a doutrina do dízimo: trata-se da corrupção textual, assunto que é tratado na Crítica Textual. Por que eu disse “suposta ordem”? Porque possivelmente Jesus nunca tenha dado tal ordem!


Talvez Jesus nunca tenha dito "devíeis porém fazer estas coisas, sem omitir aquelas"!

Nos manuscritos existentes no NT grego foram encontradas, pelos especialistas na área da Crítica Textual, algumas alterações ocorridas de forma tanto intencionais como não intencionais. Se você desejar conhecer a fundo esse assunto quero sugerir  não deixe de consultar a obra de Wilson Paroschi, Crítica Textual do Novo Testamento Grego.

Nas obras de crítica textual do Novo Testamento há vários exemplos de palavras e textos que foram acrescentados durante a cópia do original. Mas preciso ser honesto e dizer que não encontrei o texto de Mt 23:23 entre os exemplos dados por eles ao tratarem deste assunto, como também não encontrei o final deste versículo entre colchetes como aparece na ARA e no Texto Grego de Westcot-Hort (Texto Crítico), onde os colchetes são usados como um sinal que indica um provável acréscimo feito por um copista. Se não há esse exemplo, por que estou envolvendo Mt 23:23 neste assunto? Afinal, Jesus falou ou não falou isso?

Primeiro é preciso lembrar que nem todos os erros foram marcados, como o Dr. Bittencourt mesmo nos informa que “vários são os tipos de erros intencionais, eis alguns”. (O Novo Testamento. Metodologia de pesquisa textual)  Ou seja, o que temos são alguns erros informados pelos estudiosos, não estão todos catalogados um a um.  O mesmo é dito pelos outros especialistas, embora com outras palavras.

Algumas versões explicam de alguma forma quando um trecho foi acrescentado ou quando existem dúvidas quanto a possibilidade de um determinado texto realmente fazer parte do autógrafo. Na ARA, por exemplo, tal explicação fica entre colchetes. Já a NTLH, trás explicações no rodapé, da mesma forma como ocorre na NVI, mas não há nada nessas versões dizendo que  Mt 23:23 é um acréscimo.

Contudo, há certas passagens em que isso realmente não ocorre sendo que elas foram sim acrescentadas, por exemplo, no texto de 1Rs15:5. Essa passagem traz a seguinte frase: “exceto no caso de Urias, o hitita”. Ela não está entre colchetes na ARA (Almeida Revista e Atualizada) indicando que se trata de um acréscimo no texto, mas é um acréscimo, como explica o livro Enciclopédia. Manual popular de dúvidas enigmas e contradições da Bíblia: “a exceção não é encontrada em muitos manuscritos do AT.” (GEISLER, Norman e HOWE, Thomas). Ou seja, foi acrescentado. Isso quer dizer que, da mesma forma, embora a frase de Mt 23:23 possa ser um acréscimo ao texto, as versões acima citadas nada dizem a este respeito de 1Rs 15:5. Há outros exemplos de acréscimos não citados nos livros de crítica textual como ocorrem nas  passagens de At 10:30 e 1Co7:5.


Até ai tudo bem, mas baseado em quê você diz que encontrou razões para acreditar que talvez Jesus nunca tenha dito "devíeis, porém fazem estas causas, sem omitir aquelas"? - você pode perguntar.

Bem, nem todos os estudiosos gostam de reter informações com medo do sistema; eles falam o que realmente pensam e com fundamento. Foi isso o que fez o Dr.Tasker e, se o Dr. Tasker estiver certo, a ordem “devíeis fazer estas coisas sem omitir aquelas” em Mt 23:23, é mais um acréscimo que não é citado como ocorre nos textos 1Rs 15:5; At:10:30; 1Co. 7:5, citados acima, entre outros, logo, não temos porque duvidar quando ele diz o seguinte:

“É muito improvável que Jesus tenha proferido as últimas palavras deste versículo 'devíeis porém fazer estas coisas, sem omitir aquelas' pois contradizem o seu argumento [...] podemos supor que as palavras suspeitas constavam originalmente de algum comentário marginal feito por um severo judeu cristão, e subsequentemente foram inseridas no texto”(TASKER, R.V.G. Mateus. Introdução e comentário, Págs. 175, 176.)

E ele tem razão. Para você entender melhor porque o Dr. Tasker disse isso, pegue a versão NTLH e leia Mt 23, principalmente Mt 23:23. É realmente estranho ver que Jesus está repreendendo os fariseus pelas coisas que eles estavam fazendo para depois dizer Mas são justamente essas coisas que vocês devem fazer, sem deixar de lado as outras.” (Mt23:23 - NTLH). Ou seja, Jesus diz “ai de vocês escribas e fariseus porque (...) Mas são justamente essas coisas que vocês devem fazer, sem deixar de lado as outras”. Isso não soa realmente contraditório para você? Vá até o texto de Mt 23:23 e observe com cuidado.

Observe as frases de Jesus:
"Não façam o que eles fazem"(v. 2), só esse trecho já se choca com o que ele diz no v 23 "vocês devem praticar estas coisas sem omitir aquelas".
"Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens"
"gostam de lugar de honra nos banquetes e dos assentos mais importantes nas sinagogas"  Isso não te lembra alguma coisa?
"O menor de vocês deverá ser servo". Isso é difícil! Como dizem popularmente "É ruim, hein!"
"Fecham o reino dos céus diante dos homens"
"hipócritas!"
Acho que nem é preciso discorrer por todo o texto. O Detalhe aqui é que é estranho Jesus ter feito esses questionamento e depois dizer "Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas", portanto, o Dr. Tasker, tem razão. E não se engane, as editoras estão preocupadas em vender Bíblias, não estão preocupadas em esclarecer, detalhes da tradução e da história do texto. Cabe a você procurar se informar! 
  
Posto isso, é possível que esse acréscimo realmente tenha ocorrido, afinal, o que levou o apóstolo Paulo a escrever a sua carta aos Gálatas, foi exatamente o fato de alguns judeus cristãos tentarem inserir preceitos da lei no evangelho. Talvez com essa interpolação no texto de Mt 23:23, algum judeu quis mesmo inserir a doutrina do dízimo que pertence ao AT, no evangelho da graça.

Também devemos nos perguntar o seguinte, se esse texto e os outros que vamos analisar mais a frente servissem mesmo de base para que a igreja praticasse a doutrina do dízimo, (o que já vimos que não serve) por que a igreja viveria mais de 400 anos sem ensinar essa doutrina?  Estranho, não?


Quem é o Dr. Tasker?

Professor Emérito de Exegese do Novo Testamento na Universidade de Londres, comentarista do livro “O Evangelho segundo Mateus. Introdução e comentário” , da respeitada coleção da série cultura bíblica, atualmente publicada pela  Edições Vida Nova. 
 Resultado de imagem para Mateus. introdução e comentário


Ele também é membro do comitê do Novo Testamento, na tradução da New English Bible, cujo texto apresentado para a tradução foi o The Greek New Testament, também editado por ele e publicado pela University Presses of Oxford and Cambridge (1964).

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/New_English_Bible

 



Examinando o texto de Lc 18:12

"Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho."
Lendo o texto todo, o leitor perceberá facilmente que se trata de uma parábola que tinha por finalidade ensinar uma lição a alguns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros. Jesus usou o contraste (o fariseu e o publicano) a fim de mostrar, por meio dessa ilustração, a diferença existente entre a falsa adoração e o verdadeiro arrependimento, ou seja, ele está ensinando um princípio,  a importância da humildade de coração. Jesus não está ensinando aqui a doutrina do dízimo, até por que, o dizimista que na parábola se achava moralmente e espiritualmente superior, foi rejeitado. Também não é a intenção de Lucas, o escritor do evangelho, ensinar aqui a doutrina do dízimo. Se uma oração dessas fosse feita em alguns recintos avarentos nos dias de hoje, expulsariam o pobre publicano e elogiariam e honrariam o fariseu com a sua falsa adoração! Por fim, o contexto da parábola já deixa implícito que se tratava de um observador da lei do AT, o fariseu. Não faz o mínimo sentido alguém usar esse texto para reivindicar o dízimo, sem cometer uma heresia. Não existe uma ordem de Jesus do tipo, “olhe, não deixe de dar o dízimo, mas não seja como esse fariseu”, isso porque o assunto principal desta parábola não é e nunca foi o dízimo!


Examinando o texto de Lc 20:19-26

"Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"

Mais uma vez chamamos a atenção do leitor, para a importância de relação do texto com o contexto, pois, nessa questão, este princípio de hermenêutica também é importante e fundamental para entendermos o verdadeiro significado do texto.

É importante também que o leitor saiba que os títulos dos assuntos nos livros da Bíblia, não fazem parte dos "originais" da Bíblia; os títulos foram acrescentados pelas editoras de acordo com o assunto em questão, se você tiver versões diferentes da Bíblia poderá compará-las e constatará que há diferenças na forma como são colocados os títulos. Estou dizendo isso porque pode ser que o leitor ache dificuldade de entender determinadas passagens a menos que ligue um assunto a outro desconsiderando, às vezes, os títulos. Observe, portanto, a luz do contexto que antes do Senhor entrar na questão do tributo, ele proferiu uma parábola, a parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-46; Lc.20:9-18). É por causa dessa parábola que lemos a seguinte:

“Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes procuravam uma forma de prendê-lo imediatamente, pois perceberam que era contra eles que ele havia contado essa parábola. Todavia tinham medo do povo.” “Pondo-se a vigiá-lo, eles mandaram espiões que se fingiam justos para apanhar Jesus em alguma coisa que ele disse, de forma que o pudesse  entregar ao poder e à autoridade do governador. Assim, os espiões lhe perguntaram: 'Mestre, sabemos que falas e ensinas o que é correto, e que não mostras parcialidade, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. É certo pagar imposto a César ou não?' Ele percebeu a astúcia deles e lhes disse: 'Mostrem-me um denário. De quem é a imagem e a inscrição que há nele?' 'De César', responderam eles. Ele lhes disse: 'Portanto, deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus'. E não conseguiram apanhá-lo em nenhuma palavra diante do povo. Admirados com a sua resposta, ficaram em silêncio.”


Preste atenção ao contexto. É fácil para o leitor entender o que Jesus quis dizer com a expressão "daí a cezar o que e de cezar é a Deus o que e de Deus ", após ter lido a “parábola dos lavradores maus” e em seguida ler a questão do tributo; porém, vamos explicar um pouco o significado da “parábola dos lavradores maus”, afim de que o leitor encontre mais facilidade para compreender de forma correta a questão do tributo.

Jesus contou uma parábola semelhante a de Isaías 5:1-7, e através dela ele explicou melhor como Deus se relacionava com Israel. O "vinho" era o símbolo da teocracia de Israel, e os judeus sabiam disso (Is 5:17;Sl 80:8-16). Portanto, ao citar a vinha, Jesus cedeu aos fariseus e saduceus, que também estavam presentes e ouvindo, a pista para a interpretação da parábola que ele estava proferindo. Vamos analisar com mais detalhes a parábola dos lavradores naus para que você entenda de forma mais fácil mas para não tornar esse texto mais longo peço que acompanhe em sua própria Bíblia o texto de Lc 20:9-18-19.

Lavradores. Nessa parábola, estão representando os líderes de Israel, tanto os que já tinham morrido, como os que estavam ali presentes (Cf. Lc 20:1;20:19).
Depois de o espancarem. Esta frase lembra os maus tratos sofridos pelos profetas, alguns até morreram (1 Reis 17:1-7;JR.38:6;Mt.23:34,37).
Os servos. Indicam os profetas de Deus.
Um filho amado. Refere-se claramente ao próprio Jesus (veja Mc.12:11), a quem eles (a elite de Israel), não respeitariam, mas o matariam (Lc 20:13-15 ). A parábola toma um caráter profético, porque Jesus já está predizendo a sua morte.
Virá exterminará aqueles lavradores. É uma profecia que teve o seu cumprimento no ano 70 d.C., quando o general Tito, com os seus soldados, investiram contra Jerusalém, destruindo toda a forma de governo possuído anteriormente pelos judeus.
E arrendará a vinha a outros lavradores. Uma predição da transferência do favor divino de Israel aos gentios e a igreja.
O reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.  Será o resultado do triunfo de Cristo. O reino de Deus será tirado da posse dos líderes (e da nação israelita daquela época, como indica a menção de outras nações).
Ao concluir esta parábola lemos que, "os principais sacerdotes e os fariseus[...]entenderam que era a respeito deles que Jesus falava" (Lc 20:19), e passaram a tentar fazer com que Jesus fiz afirmações contra o regime tributário de César, afim de conseguirem entregar nas mãos do governador romano, uma acusação incriminadora. Para tal intento os fariseus fizeram até mesmo uma aliança com os herodianos (Mc12:13). Não era comum que os fariseus e os herodianos atuassem juntos de comum acordo, principalmente no tocante a questões ligada ao império romano, porque os fariseus não eram favoráveis a qualquer domínio estrangeiro, enquanto os herodianos apoiavam o governo estrangeiro de herodes.

Observe ainda, que Jesus está se dirigindo aos fariseus e aos principais sacerdotes, tratando de assuntos relacionados ao seu ambiente histórico-cultural; ele não está se dirigindo ao discípulos (futuros líderes da igreja), a fim de lhes ensinar e ordenar que o dízimo deverá ser pago pela futura igreja.

Portanto, não é correto afirmar, com base nesta passagem, que o cristão é "obrigado" a pagar o dízimo, pois o problema ali envolve o compromisso político dos judeus com o governo de Roma e o compromisso religioso dos judeus com Deus. Porém, o princípio ensinado por Cristo é válido, pois o cristão também deve cumprir suas obrigações, pagando os seus impostos e exercendo sua cidadania neste mundo. Por outro lado, como cristão, deve procurar obedecer a Deus, dando prioridade a ele. Por fim, nem mesmo a palavra "dízimo" é citada nesta passagem, nem no texto grego e nem em nenhuma versão da Bíblia, o que significa que o que está sendo discutido não é a questão do dízimo e sim, como já foi dito, é a questão da fidelidade ao governo do mundo e a Deus. É claro que a fidelidade dos Judeus a Deus estava baseada na lei do AT, logo o dízimo também estava incluso, mas, em se tratando da igreja, sabemos que a base da relação do cristão com Deus não é a lei do AT, e sim a fé em Cristo, logo, o dízimo não está incluso nesta relação como uma obrigação.

Desejo de vingança
Era isso que os escribas e os principais sacerdotes estavam sentindo depois de ouvirem a parábola sobre "os lavradores maus" (Lc 20:9-18-19 ) e foi isso que os levou a subornarem espiões que se fingiam de justos para tentarem fazer com que Jesus se opusesse ao governo romano. Certamente escolheram com cuidado a pergunta: "É lícito pagar tributo a César, ou não?"

Existe um dilema envolvido na pergunta. Se Jesus respondesse "não", poderia ser acusado como um opositor, um homem desleal a Roma, com tendências revolucionárias. Se respondesse "sim", seria rejeitado pelo povo, como o Messias, por se declarar um colaborador de Roma, principalmente porque o imposto deveria ser pago por todos os homens acima de 12 anos e mulheres acima de 14, até a idade de 65 anos, e o povo judeu odiava imposto. Sabendo disso o leitor estará pronto para entender o que Jesus quis dizer com a resposta: "Daí, pois a César o que e de César, e a Deus o que e de Deus."

Jesus responde de forma apropriada, não caindo ao mesmo tempo na armadilha. A resposta de Jesus traz em si um princípio. Qual? O fato de que governo humano deve ser obedecido enquanto não entrar em choque com a lei de Deus. Por outro lado, Deus deve, também, ser obedecido. O dinheiro de César representava o governo de César, pois o domínio de um rei considerava-se expandido até onde o uso de suas moedas fossem aceitas. Portanto, o próprio fato dos judeus usarem a moeda, era uma prova de que reconheciam o governo de Roma. Como súditos do império romano, os judeu tinham a obrigação de pagar o tributo a César mas, eles (os judeu) eram um povo que tinha como princípio de vida a obediência a lei de Deus, portanto, eles também tinham um compromisso para com o Deus de Israel.

Então, quando Jesus diz, "a Deus oque é de Deus" Ele está se referindo a obediência e submissão, em tudo, a Deus. O dízimo não é o assunto aqui.

Observe ainda, que Jesus está se dirigindo aos fariseus e aos principais sacerdotes, tratando de assuntos relacionado ao seu ambiente histórico-cultural; ele não está se dirigindo ao discípulos (futuros líderes da igreja ), a fim de lhes ensinar e ordenar que o dízimo deverá ser pago pela futura igreja.

 Portanto, não é correto afirmar, com base nesta passagem, que o cristão é "obrigado" a pagar o dízimo, pois o problema ali envolve o compromisso político dos judeus com o governo de Roma e o compromisso religioso dos judeus com Deus. Porém, o princípio ensinado por Cristo é válido, pois o cristão também deve cumprir suas obrigações, pagando os seus impostos e exercendo sua cidadania neste mundo. Por outro lado, como cristão, deve procurar obedecer a Deus, dando prioridade a ele.

Por fim, nem mesmo a palavra "dízimo" é citada nesta passagem, nem no texto grego e nem em nenhuma versão da Bíblia, o que significa que o que está sendo discutido não é a questão do dízimo e sim, como já foi dito, é a questão da fidelidade ao governo do mundo e a Deus. É claro que a fidelidade dos Judeus a Deus estava baseada na lei do AT, logo o dízimo também estava incluso, mas, em se tratando da igreja, sabemos que a base da relação do cristão com Deus não é a lei do AT, e sim a fé em Cristo, logo, o dízimo não está incluso nesta relação como uma obrigação.

Nas epístolas
Nas epístolas não encontramos base para a cobrança do dízimo porque nenhum dos escritores das cartas ensina tal doutrina. Não encontramos a palavra dízimo nas cartas de nenhum dos apóstolos, com exceção da Carta aos Hebreus onde a palavra dízimo aparece referindo-se a fatos ocorridos no AT, mas nunca de forma imperativa como se fosse uma doutrina para a igreja. Lemos sobre ofertas e contribuições, mas nada sobre dízimos, por isso, nem vou expor nada aqui a este respeito, mas se alguém desejar envio o meu livro onde consta uma análise das cartas sobre a questão das doações.

O dízimo na epístola aos hebreus
Na carta aos hebreus, sim, nós encontramos referências ao dízimo, no capítulo 7, mas fica aqui um alerta ao leitor mais uma vez, pois o contexto em que a palavra dízimo aparece jamais deve ser ignorado. Alguns têm tentado ensinar que as igrejas primitivas praticavam o ato de dizimar só por que encontram a palavra "dízimo" na carta aos hebreus, mas oferecem uma interpretação insustentável por violarem os princípios da interpretação e assim ensinam o que o texto em si não está ensinado. O leitor leigo não questiona nem examina o assunto, principalmente dependendo de quem está ensinando, pois muitos confiam cegamente em seus pastores e teólogos, um erro lamentável. Lembre-se, para muitos "Falar com ares de sabedoria é sinônimo de que possui conhecimento". Vamos então analisar o assunto sobre o dízimo nesta carta.

No versículo 2 aparece o termo grego decatê significando “décimo” e traduzido por dízimo.
No versículo 4, a palavra é a mesma do versículo 2.
No versículo 5 ocorre o termo grego apodecatoun significando “tomar o dízimo de alguém” ou "receber o dízimo”.
No versículo 6 ocorre a palavra dedekatoken significando “dar” ou “receber dízimos”.
No versículo 9 ocorre o termo  dedekatotai significando “dizimar” ou “pagar o dízimo”.

No entanto, o fato de tais palavras serem citadas, não significa que a doutrina esteja sendo, por isso, ensinada pois o contexto não as relaciona a igreja cristã, antes, o escritor está apenas relatando o ocorrido em Gêneses 14, sobe o episódio de Abraão e Melquizedeque.

Se o fato de uma palavra aparecer em um determinado texto fosse suficiente para validar uma doutrina tudo seria validado pela Bíblia, pois encontramos as palavras "adultério", "roubo", "mentira" e "não há Deus." Vamos afirmar que tais coisas são ensinadas como verdadeiras só porque aparecem na Bíblia? É claro que não, pois certamente quem as citou não está ensinado que é correto praticá-las. Observe em síntese sobre o que o autor discorre no capítulo 7.

Do versículo 1 ao 3, ele está apresentando Melquizedeque como um tipo de Cristo.
Dos versículos 4 ao 19, ele está esclarecendo como o sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio levítico. Em todo o relato ele retrata os episódios históricos envolvendo Abraão e Melquizedeque, que ocorreu no passado, porém, não existe nenhuma ordem, explícita dada por Deus nem ensino algum que incentive os cristãos a seguirem o exemplo de Abraão.

Compreendendo o texto de hebreus 7:8
Vejamos outro texto que muito é usado de forma errada em favor da cobrança do dízimo na carta aos hebreus: “Aliás, aqui sãohomens mortais os que recebem o dízimo, porém ali, aquele de quem se testifica que vive” (Hb.7:8 ARA). Há quem ensine, baseado apenas neste versículo, que o dízimo era observado pela igreja primitiva. Se fosse verdadeiro tal ensino, eu não teria porque refutá-lo, até porquê, não teria como, preferiria, a bem da verdade, usá-lo de forma devida argumentando sobre “razões legítima para se dizimar”. Há, pelo menos duas formas de o leitor entender o que está dizendo o escritor da carta aos hebreus, sem correr o risco de errar na interpretação:

1. Analisando o texto a luz do contexto
Repito o que já disse anteriormente: não é correto formular doutrinas baseadas em um texto isolado. O contexto é quem dita as regras, ignorá-lo é uma armadilha. Vamos analisar com cuidado:

O assunto do capítulo 7 é Melquizedeque. Na verdade o escritor já vem citando ele desde o capítulo 5:6-10. Observe que o capítulo 7 apresenta Melquizedeque como um tipo de Cristo. (ARA). A chave principal para o entendimento do versículo 8 está nos versículo 5 e 6.

O versículo 5 fala dos sacerdotes, descendentes de Levi, “A lei requer que os levitas recebam os dízimos”. É deles que o escritor está falando no versículo 8; eles são chamados de homens mortais que recebem dízimos. Já no versículo 6, falando sobre Melquizedeque diz que ele não pertencia a linhagem de Levi, mas, mesmo assim recebeu os dízimos de Abraão, e o abençoou. É de Melquizedeque que ele fala no versículo 8 quando diz: “Porém ali, aquele de quem se testifica que vive” (ARA).

Note que no versículo 3, o escritor afirma que Melquizedeque “não tem fim de existência”, que “permanece sacerdote perpetuamente”, é por isso que no versículo 8 o escritor diz que “se testifica que vive”. Portanto, o versículo 8 fala dos Levitas, homensmortais que recebem dízimos, e de Melquizedeque de quem se testifica que vive.

2. Analisando o texto a por meio de outras versões
outra forma muito fácil de entender esse texto que é utilizar uma versão mais atualizada em português como as que eu vou citar abaixo:

Melquizedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou; e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa 'rei de Justiça'; depois, 'rei de Salém' que quer dizer 'rei da Paz'. Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre. A lei requer dos sacerdotes dentre os descendentes de Levi que recebam o dízimo do povo, isto é, dos seus irmãos, embora antes sejam descendentes de Abraão. Este homem, porém, que não pertencia a linhagem de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas. No primeiro caso, quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso é aquele de quem se declara que vive" ( Hb.7:1- 3,5,6,8 Na versão NVI ).

Vamos aos mesmos textos em outra versão:
"Melquizedeque era rei da cidade de Salém e sacerdote do Altíssimo Deus. Quando Abraão estava voltando da batalha em que matou os reis, Melquizedeque foi ao encontro dele e o abençoou. Abraão lhe deu a décima parte de tudo o que tinha tomado dos inimigos na batalha. O nome de Melquizedeque quer dizer primeiro “Rei da Justiça”. E, porque ele era rei de Salém, o seu nome também quer dizer “Rei da Paz”. Não se conhece o pai nem a mãe nem qualquer antepassado de Melquizedeque. Não se sabe nada sobre o seu nascimento ou sobre a sua morte. Ele é como o Filho de Deus: continua sacerdote para sempre. Conforme a Lei de Moisés, os sacerdotes, que são descendentes de Levi, têm a ordem de cobrar do povo a décima parte de tudo. Eles cobram dos seus próprios patrícios, embora estes também sejam descendentes de Abraão. Melquizedeque não era descendente de Levi, mas cobrou a décima parte daquilo que Abraão tinha tomado na batalha e o abençoou. Sim, abençoou o próprio Abraão, que havia recebido a promessa de Deus. Não há dúvida de que quem abençoa é maior do que quem é abençoado. No caso dos sacerdotes, a décima parte é cobrada por homens que um dia vão morrer. Mas  no caso de Melquizedeque, como dizem as Escrituras, a décima parte foi cobrada por alguém que continua vivo."
 Hb.7:1-3,5,6,8- Na versãoNTLH ).

Perceba como vai ficando mais fácil compreender o texto a medida em que usamos uma versão em linguagem de fácil compreensão. Na BLH já fica claro que, sem dúvida alguma, Hb.7:8 não se refere a igreja mas aos sacerdotes do AT e a Melquizedeque. Vamos ver em mais uma:

"ESTE MELQUIZEDEQUE era rei da cidade de Salém, e também um sacerdote do Deus Altíssimo. Quando Abraão estava  regressando para casa depois de ter ganho uma grande batalha contra muitos reis, Melquizedeque foi ao seu encontro e o abençoou. Abraão, então, tomou a décima parte de tudo quanto havia ganho na batalha e deu a Melquizedeque. O nome de 'Melquizedeque' significa 'Justiça', - portanto ele é o Rei da Justiça; e é também o Rei da Paz, por causa do nome da cidade dele, Salém, que quer dizer 'Paz'. Melquizedeque não teve painem mãe e não existem anotações sobre nenhum dos seus antepassado. Nunca nasceu e nunca morreu, mas a sua vida é semelhante à do Filho de Deus- sacerdote para sempre”. "Poderse- ia compreender por que Abraão faria isto Melquizedeque fosse um sacerdote judeu, porque mais tarde o povo de Deus foi obrigado pela lei a dar oferta para sustentar os seus parentes. Melquizedeque, entretanto, não era parente nenhum, e mesmo assim Abraão pagou-lhe". b) "Melquizedeque deu a bênção ao poderoso Abraão”. c) “Os sacerdotes judaicos, embora fossem mortais, recebiam dízimos; somos informados, porém, que Melquizedeque continua vivo" ( Hb.7:1-3,5,6,8) - Na versão Bíblia Viva).

Creio que a citação destas passagens nas três versões citadas dispensa outros comentários a este respeito, pois é suficiente para comprovar a veracidade da interpretação e para expor a mentira naquele livreto!

Quem garante que você está certo e quem me ensinou a doutrina do dízimo, errado?

É possível que alguém me fizesse essa pergunta, afinal, quem sou eu para querer questionar um ensino que vem se propagando a anos? Muitos pastores aprenderam que devem cobrar o dízimo da congregação, e ensinaram os seus obreiros a fazer o mesmo, acreditando que estão fazendo a vontade de Deus, porque algum outro pastor também ensinou assim e sempre foi assim, logo, eles não podem estar errados e eu certo. Sinto muito mas, estão sim.

O que, então, outros líderes honestos, pastores e estudiosos têm a dizer sobre a doutrina do dízimo? Vejamos:

Werner Fuchs, pastor luterano em entrevista a revista Enfoque:
"O Novo Testamento não só deixa de dar fundamento ao dízimo como refuta. O dízimo pertence a velha aliança assim como a circuncisão; se o apóstolo Paulo, que reconhecia o Antigo Testamento melhor que nós não o inseriu em seus ensinamentos, é porque o considerou supérfluo. É irresponsabilidade e incoerência pastoral colocar o dízimo como obrigação para aqueles que foram libertos por Jesus."

Na opinião do pastor Russel Shedd, não há no Novo Testamento e nem na história da igreja, evidências de que os cristãos pagavam o dízimo, antes do século IV d.C. Ele afirma que as igrejas eram encorajadas a dar de acordo com a maneira que Deus as prosperava, conforme 1Co 16:1-2. E defende ainda: “O que damos deve ser com alegria, e não por obrigação legalista.”

O Dr. R.N Champlim (AT e NT Interpretado Versículo por Versículo. Tratado de Bíblia Teologia e Filosofia) diz: “É evidente que Jesus reconhecia a natureza obrigatória dos dízimos, no caso da nação de Israel, mas está longe de ser claro que isso envolvia até mesmo a igreja cristã.”

O Dr. Colim Brow (Dicionário Internacional de Teologia do AT e do NT) diz: “Jesus menciona escribas e fariseus que dão o dízimo (Mt.23:23; Lc.11:42; 18:12), mas nunca mandou que seus discípulos dessem o dízimo.”

A enciclopédia Barsa, uma das mais conceituadas do mundo, também conhecida como Enciclopédia Britânica relata o seguinte:

“Nos primórdios do cristianismo não havia dízimo, mas doações voluntárias com fins caritativos denominados oblações. No século VI, com o desmoronamento do sistema de cobrança de imposto do império romano do ocidente, a igreja transformou as oblações em dízimos.”

Paulo de Oliveira, autor do livro Desmistificando o Dízimo:

“Nos três primeiros séculos do cristianismo, não houve pagamento de dízimos, e muitos dos patriarcas da igreja como por exemplo Irineu, no século II, condenavam o ato de dizimar por considerá-lo legalista e ritualista, em oposição a espontaneidade das ofertas voluntárias”.
 
Se a igreja  ficou  400 anos sem essa  doutrina e não  há  base bíblica  para isso, como surgiu  a cobrança  do dízimo?

Sabe-se também que no século VIII Carlos Magno, o rei  dos Francos, foi quem formalizou as regras religiosas e, entre elas, a coleta de dízimos como impostos. O motivo dessa coleta de dízimos em forma de impostos, segundo Justo L Gonzales, era para  Jerusalém, a Terra Santa. Era uma espécie de imposto adicional que devia ser pago por ricos e pobres. Até então, esse dízimo de Carlos Mago não existia - Cronologia da história eclesiástica P. 15 Edições vida nova - Uma história ilustrada do cristianismo Vol IV, P 72.

"A Igreja Católica institucionalizou a cobrança no Concílio de Macon, em 585, estabelecendo a quantia de 10% das posses dos fiéis. Mas foi Carlos Magno, rei dos francos, que expandiu a prática: conforme alargava seu império no século 9, difundia a cobrança nas regiões conquistadas. Com o tempo, os governos entraram na jogada. “A Igreja permitiu reis a cobrarem o dízimo, mediante o compromisso de expandir a fé cristã”, diz Diego Omar Silveira, historiador da UFMG. Com a separação entre Igreja e Estado, a partir do século 18, o dízimo voltou a ser um tributo exclusivamente religioso." - Revista Super Interessante  https://www.google.com/amp/s/super.abril.com.br/historia/qual-e-a-origem-do-dizimo/amp/

 

Obviamente, as igrejas protestantes para gerarem receita e custearem as despesas financeiras não acharam melhor maneira de convencer o fiel se não "inventando" essa doutrina com base em interpretações bíblicas erradas.   Hoje existem verdadeiros impérios, mega denominações cujos líderes são bancários, fazendeiros, e outros que não aparecem muito mas se alguém for olhar de perto vai ver que vive vida luxuosa, de rei. Os filhos nunca souberam o que é pobreza e o mais interessante é que as pessoas não se dão conta de que, em sua maioria, sobretudo no seguimento pentecostal, denominação acaba sendo um "negócio" da família.  
 
Que existem líderes sérios e bem intencionados, não se pode negar. Nem todo pastor é ladrão, como muita gente erroneamente pensa mas é uma minoria e normalmente são os da periferia que de boa consciência atuam nas denominações acreditando estarem fazendo a obra de Deus. No entanto essa minoria diminui mais ainda se alguém tenta convencê-los de que essa doutrina do dízimo está errada. Foi assim que aprenderam na EBD e foi esse o ensino que receberam dos seus pastores e é essa a cartilha que vão seguir, infelizmente. Resta perguntar se saber a verdade e viver em prol dela não interessa a esses líderes mais que obediência cega se recusando a abrir mão de uma das doutrinas erradas que aprenderam e que insistem em continuar ensinando. 
 
É claro que aqui ninguém está inventando a roda pois todos os grandes estudiosos sérios das denominações sabem a verdade sobre isso mas ganham para distorcerem a verdade, com criatividade inspirada pelo "pai da mentira", distorcem, inventam meios de confundirem a mente do fiel a todo custo para manterem a renda mensal. É como uma profissão para eles! 

Posso imaginar perguntas "E como você acha que as igrejas pagarão as suas despesas como água, luz, aluguel e programas de TV se não cobrarem dízimos?" Vou ter o prazer de falar sobre isso como um assunto a parte. Por hora vou apenas deixar alguns poucos exemplos abaixo.


Algumas denominações que não cobram o dízimo

CEVA
A pastora Mara Rubia Barone Windt, da Comunidade Evangélica em Vila Anastácio (CEVA),  honestamente reconheceu a incoerência da hermenêutica do dízimo. Ela fez o seguinte comentário na revista Eclésia: “Recusamo-nos, na nossa igreja, a pregar mentiras. O dízimo é uma instituição que traz peso e sentimento de culpa aos crentes [...] A doação sempre deve ser fruto de amor, nunca de imposição”.

Igreja Luterana
“Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil não adota o dízimo como sistema contributivo.”

Congregação Cristã no Brasil
A Congregação Cristã no Brasil, apesar de seus ensinos considerados por muitos apologistas como hereges, não tem por hábito exigir o dízimo.


Um pastor que usa o dízimo para construir casas para os fiéis

Já que muitas denominações cobram o dízimo deviam seguir também este exemplo:

O pastor da Assembleia de Deus Ministério Lagoinha, Fábio Mendonça, que também é sargento da Polícia Militar da 25ª CIA em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, resolveu utilizar o dinheiro doado pelos fiéis para construir casas para os membros que não têm onde morar.


Portanto, fica claro que existem inúmeras pessoas que, apesar de serem cristãs, líderes, teólogos, escritores e pesquisadores, todas elas estudaram o assunto e entenderam que, de fato, não existe margem na Bíblia, principalmente no Novo Testamento para a cobrança de dízimos dentro do contexto cristão! Se você quer dá o seu dízimo dê, mas saiba que isso não é um mandamento bíblico para a igreja, logo você não é obrigado.

Deixo uma sugestão aqui para quem deseja ajudar cristãos necessitados pelo mundo. Ministério Portas abertas: https://www.portasabertas.org.br/


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